quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre." (Carlos Drummond de Andrade)
Senguindo o pensamento de Drummond, gostaria de transcrever o que vou levar de 2010, e o que marcou de cada pessoa especial em mim. Guardarei primeiramente os almoços com a minha mãe, e a convivência de cada dia. Do sorriso do meu pai, das broncas da Nathalia, as loucuras da Carolinne. As saudades infinitas dos meus avós e da minha madrinha.
Guardo a galera do Botafogo, que chegou pra ficar. A paciência do Brasilia, o esforço da Luna, o jeito da Adara, a mandona da Talitha, a fofura da Mariana Santos, as risadas do João. Os churrasco do Tio Ique, e por todas as vezes que me vi como uma tricolor doente gritando "Vamos ganhar fogooooooooo". Levarei comigo o jeito maroto da Tatianna, a amizade e o carinho da Marcella Braga, as discussões com a Luiza, as saudades da Ayla e da Julia, a distância da Nathanne e do Dudu. As reivindicações do Che, as risadas com a Emilia, as piadas do Rick, os dias em João Pessoa com Tati, a teimosia e o carinho do Jailton. Não poderia esquecer das pessoas que entraram agora, mas que se fazem cada vez mais presentes: As frases do Diego, o jeito sereno da Mariana, as piadas do Elifas, a fofura da Thais, a amizade das minhas chefes, o sorriso do Bruno, o abraço do Pedro a voz do Tele (rsrs), os flyers do Felipe. E por fim mas não menos importante, a ausência do Julio, o cuidado do Flavio, e o ano de vestibular do Bernardo. Além saudade das nights com a Yasmin e Mariana Paes;
Para o Ano que vem? Desejo tudo isso aí de novo! Desejo que essas pessoas estejam cada vez mais presentes, e que a cada dia eu possa dividir uma alegria ou uma tristeza com elas. Em especial à mim, desejo sucesso na faculdade e no estágio, e muito polo aquático pra jogar ainda. Desejo um ano memoravél à todos!
Adeus 2010! Que venha 2011!
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Um anjo em nossas vidas
Ainda não vi o filme Preciosa, que concorreu ao Oscar este ano, mas li o livro e terminei ontem e só não o hiperfestejo porque implico um pouco com textos escritos propositadamente errados – narrado na primeira pessoa, a personagem é analfabeta e é “nóis fumo” e “lavei os prato” da primeira a última página, mas entendo que sem esse naturalismo o relato soaria inverossímel e a reação à leitura não teria o mesmo impacto. Preciosa dói. E quando o livro acaba, a gente mais uma vez se conscientiza de que não precisaria doer.
Educação segue sendo a melhor terapia para a saúde mental de uma pessoa. A personagem do livro engravidou do próprio pai aos 12 anos, é abusada também pela mãe, e aos 16 está grávida de novo, do pai de novo. Só o que conhece da vida é isso: abuso e violência. Nunca ouviu uma única palavra doce em sua brutal adolescência. É feia, gorda, pobre, negra e sem estudo. Um personagem como os que existem às pencas no Brasil, ainda que Clareece Precious Jones, a Preciosa, seja americana – o que não torna sua desgraça menor.
Pra cada um de nós foi designado um anjo. Cabe a nós reconhecê-lo e permitir que ele nos ajude. O anjo de muitos brasileiros foi José Mindlin, nosso mais conhecido bibliófilo e incentivador da cultura, que faleceu este ano, aos 95 anos. Acho que como todo final de ano, paramos e olhamos para trás para perceber o que aconteceu de bom e de ruim no ano. E considero esta uma das maiores perdas para nós brasileiros. Voltando ao livre, o anjo de Precious foi uma professora sem medo de desafios. A história não acaba com Precious ganhando o prêmio Nobel de Literatura, mas mostra a porta, a única porta, pela qual todos devem passar caso queiram ser alguém.
O tocante da narrativa é ver uma menina começar a ter acesso a algo absolutamente mágico: a união de duas letras, três letras, quatro letras, e isso se transformar numa palavra, e essa palavra dar sentido ao que ela não sabia até então como identificar. E então perceber os direitos que lhe roubaram na infância e desejar voltar no tempo pra experimentar a vida como ela deveria ter sido. Só que ninguém pode voltar para onde nunca esteve. Ela terá que carregar para sempre o massacre que sofreu por ter dois brutamontes ignorantes como pais e tentar transformar essa chance de crescer, que está recebendo, em um futuro minimamente decente. É possível?
Se através da autovalorização não for possível, então de nenhum outro jeito será.
Imagino o desespero de alguém que deseja retornar ao ponto de partida, recriar suas experiências, vivenciar o que lhe foi sonegado, mas que não pode. Porém, um dia a gente acorda, os livros nos acordam, um anjo nos acorda, e somos avisados: não adianta mais olhar para trás. É ir em frente ou nada.
Tem um monte de gente preciosa por aí que a gente não enxerga, que não recebe de nós um incentivo. O prólogo do livro traz uma frase que diz: Toda folha de grama tem seu anjo que se curva sobre ela e sussurra: “Cresce, cresce”. Tivemos a sorte de nascer em famílias que nos ofereceram uma certa estrutura, que nos possibilitaram estudar e crescer – já nascemos arbustos. Poderíamos retribuir sendo, para as folhas de grama, o anjo que sussurra.
Acho que encontrei uma maneira digna de homomenagiar Jose Mindlin, por ele ter sido o anjo de muitos brasileiros, e recomendo o livro Preciosa à todos que acham que as vezes passamos por problemas que não vamos superar, a vida nos prega muitas suspresas sem dúvidas, mas o nosso papel é passar pelos obstáculos mesmo que eles tentem ser maiores que nós.
Adeus José Mindlin, que venha 2011 então.
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Educação segue sendo a melhor terapia para a saúde mental de uma pessoa. A personagem do livro engravidou do próprio pai aos 12 anos, é abusada também pela mãe, e aos 16 está grávida de novo, do pai de novo. Só o que conhece da vida é isso: abuso e violência. Nunca ouviu uma única palavra doce em sua brutal adolescência. É feia, gorda, pobre, negra e sem estudo. Um personagem como os que existem às pencas no Brasil, ainda que Clareece Precious Jones, a Preciosa, seja americana – o que não torna sua desgraça menor.
Pra cada um de nós foi designado um anjo. Cabe a nós reconhecê-lo e permitir que ele nos ajude. O anjo de muitos brasileiros foi José Mindlin, nosso mais conhecido bibliófilo e incentivador da cultura, que faleceu este ano, aos 95 anos. Acho que como todo final de ano, paramos e olhamos para trás para perceber o que aconteceu de bom e de ruim no ano. E considero esta uma das maiores perdas para nós brasileiros. Voltando ao livre, o anjo de Precious foi uma professora sem medo de desafios. A história não acaba com Precious ganhando o prêmio Nobel de Literatura, mas mostra a porta, a única porta, pela qual todos devem passar caso queiram ser alguém.
O tocante da narrativa é ver uma menina começar a ter acesso a algo absolutamente mágico: a união de duas letras, três letras, quatro letras, e isso se transformar numa palavra, e essa palavra dar sentido ao que ela não sabia até então como identificar. E então perceber os direitos que lhe roubaram na infância e desejar voltar no tempo pra experimentar a vida como ela deveria ter sido. Só que ninguém pode voltar para onde nunca esteve. Ela terá que carregar para sempre o massacre que sofreu por ter dois brutamontes ignorantes como pais e tentar transformar essa chance de crescer, que está recebendo, em um futuro minimamente decente. É possível?
Se através da autovalorização não for possível, então de nenhum outro jeito será.
Imagino o desespero de alguém que deseja retornar ao ponto de partida, recriar suas experiências, vivenciar o que lhe foi sonegado, mas que não pode. Porém, um dia a gente acorda, os livros nos acordam, um anjo nos acorda, e somos avisados: não adianta mais olhar para trás. É ir em frente ou nada.
Tem um monte de gente preciosa por aí que a gente não enxerga, que não recebe de nós um incentivo. O prólogo do livro traz uma frase que diz: Toda folha de grama tem seu anjo que se curva sobre ela e sussurra: “Cresce, cresce”. Tivemos a sorte de nascer em famílias que nos ofereceram uma certa estrutura, que nos possibilitaram estudar e crescer – já nascemos arbustos. Poderíamos retribuir sendo, para as folhas de grama, o anjo que sussurra.
Acho que encontrei uma maneira digna de homomenagiar Jose Mindlin, por ele ter sido o anjo de muitos brasileiros, e recomendo o livro Preciosa à todos que acham que as vezes passamos por problemas que não vamos superar, a vida nos prega muitas suspresas sem dúvidas, mas o nosso papel é passar pelos obstáculos mesmo que eles tentem ser maiores que nós.
Adeus José Mindlin, que venha 2011 então.
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