domingo, 14 de agosto de 2011

Meu herói, meu bandido


Ele parece um gigante. Ou será apenas uma impressão, já que somos tão minúsculos diante dele? Não, não é impressão, ele é sim um gigante! É forte, mesmo quando magro. É sério, mesmo quando brinca. E sabe muito. Tem todas as respostas. Conhece todos os truques. Sabe onde a gente deve sentar no estádio para evitar o tumulto de torcedores. Sabe que rua a gente deve pegar para evitar congestionamento. Sabe como consertar o computador. Sabe exatamente quando vai chover. Nunca tem dor de dente. Nunca tem febre. Nunca mentiu. Nunca deixou faltar nada em casa.

Por quanto tempo dura esse delírio? A infância toda. Nossas primeiras e mais fortes emoções foram provocadas por ele. A primeira sensação de respeito foi por ele. O primeiro medo foi dele também. Não podemos decepcioná-lo. Ele faz tudo certo. Não permite que façamos de outro jeito. Mesmo que não sejamos mais do que meras crianças, ele exige de nós o melhor que temos a dar. Ele não se contenta com pouco. Ele é o parâmetro. Ele é o cara. Nosso orgulho, nossa segurança. Nosso.

E então o tempo passa e começamos a aprender que não somos sua imagem e semelhança, já que, ao contrário dele, nós erramos à beça. Nós pedimos cola para conseguir passar de ano. Nós fumamos escondido. Nós pegamos o carro antes de ter carteira. Nós brigamos com nosso irmão. Nós desejamos a namorada do próximo. Nós ultrapassamos o limite de velocidade. Nós somos adolescentes. E um dia surge a desconfiança: será que ele também erra? Essa não. De herói a bandido. Ele, que não quer mais abrir a carteira pra nós. Ele, que todo dia dá sermão. Ele, que faz a mãe chorar. Ele, que implica com todos os nossos amigos. Ele, que reclama do nosso cabelo. Ele, que foi demitido. Ele, que andou bebendo demais. Ele, que teve que ir ao médico. Ele, que não é diferente de ninguém.

Duríssima travessia esta, a que chamamos de “cair na real”. A gente cresce e o gigante se apequena, e passamos todos a ter o mesmo tamanho. Difícil pra ele, mais difícil pra nós.

Como não nos sentirmos traídos? Como ele permitiu que nossas ilusões fossem ralo abaixo? Até que vem a maturidade e, com ela, os papéis se definem, as proporções ganham sentido e clareza. Ninguém é herói, ninguém é bandido. Ele é um homem. Se as mães são tratadas como rainhas do lar para sempre, ele, ao contrário, ganha em humanidade.

Ele se adapta ao nosso olhar, se ajusta. Passa a ser um de nós. O cara que viaja e volta. O cara que some e reaparece. O cara que mente e diz a verdade. O cara que tem certeza e tem dúvida. Ele, que desempenhou muito bem o papel que lhe cabia, que foi gigante quando era preciso. E, quando preciso, revelou que não sabia tudo, e que segue até hoje seu caminho ao nosso lado, sendo ora Golias, ora um humilde pastor.

Acho que só essa música pra representar algo nesse dia tão especial!

"
Pai, me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu

Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peito
Pra pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar

Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
"


Nenhum comentário:

Postar um comentário