terça-feira, 6 de abril de 2010

Até quando?

Gostaria muito de não ficar revoltada com as coisas que acontecem, queria eu conseguir ver o que está acontecendo, e ficar calada. Mas não faz parte da minha personalidade. Queria dividir minha raiva, e colocar aqui (que é sempre minha válvula de escape) a minha revolta pelas pessoas que estão na rua, sem casas, com risco de vida..
E ainda assim ter que escutar do Sergio Cabral: "As pessoas estão sem abrigo e morrendo, porque constroem casas aonde não deveriam, em áreas de risco". Queria saber qual a solução então que ele dá pra essas pessoas que não tem aonde morar. Queria que alguém falasse pra ele (eu falaria sem problemas, mas infelizmente não tem como) que elas não optam em morar em lugares perigosos, mas não tem outra opção. Queria saber se ele passou a noite (como muitos de nós) tentando chegar em casa, e assistindo o desespero das pessoas na rua, abandonando seus carros, descendo dos ônibus, e esperando amanhecer (na chuva) para ver qual era a possibilidade delas chegarem em casa. Queria que ele desse só uma entrevista sincera, dizendo que o problema é a falta de estrutura do Rio de Janeiro, porque essa é a verdade. Que ele ao menos pedisse perdão para as pessoas que perderam seus familiares, que ele tentasse tranqüilizar as pessoas que estão em condições precárias, e que ficarão por um bom tempo nessas condições, afinal sabemos que nada se resolve da noite pro dia. Tudo é um processo, mas vamos combinar que nós brasileiros estamos de saco cheio de tudo ser um "processo", até QUANDO????
Fico me perguntando, até quando isso vai continuar assim, até quando pessoas com menos estrutura vão morrer, e vão virar estatísticas? Até quando vamos escutar o o Governador falando que a culpa é nossa, e vamos ficar quietos? Fico me perguntando se NINGUÉM mais se revolta com isso. Passei a noite na rua, esperando o tempo passar, e vi as pessoas desesperadas, os carros largados, as ruas cheias..Isso é culpa nossa também? As ruas ficarem alagadas em plena Zona Norte?
Estou farta de assistir pela televisão tanta desgraça e escutar que: “Não tem jeito”. Afinal quanto a nossa vida ta valendo? Cadê a humanidade das pessoas? O respeito pelo outro? Estamos caminhando mesmo cada vez mais para o final dos tempos, e não falo de abalos sísmicos (como por exemplo mostrado no filme 2012), mas sim dos atos e erros diários que cometemos. Como já dizia Renato Russo numa frase que pra muitos pode parece clichê, mas tem tudo de verdadeira: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há” E não há mesmo!
Quem vai cuidar e prezar por nós, senão nós mesmos? Humanos tem que cuidar de humanos, pois se não for desta forma estamos caminhando para trás. Quanto tempo mais vai demorar para perceber que estamos nos destruindo?
To cansada de assistir tanto egoísmo, tanta falsidade. Acho que a palavra mais exata para definição é angustia, fiquei angustiada o dia todo. As noticias me despedaçam, fico cada vez descrente da humanidade e com uma vontade incansável de gritar para o mundo que somos uma vergonha. Que me envergonho da humanidade, que cada vez mais acho que não temos salvação. Sei que diferentemente do que foi para mim, um dia recheado de tragédias, de noticias trágicas, de desigualdade estampada, de crueldade.. para muitos hoje foi feriado. E que feriado bom em plena terça-feira. Dias como o de hoje, tinham que servir para pessoas refletirem, e aprenderem com a dor do outro. É fácil para muitos de nós, chegarmos em casa tendo água, casa, conforto, cobertor, comida. Só estamos esquecendo que HÁ tanta vida lá fora. Que tem gente que perdeu tudo, que ta sofrendo as conseqüências e que precisam de ajuda.
Gostaria imensamente de dizer ao Sr. Governador que ao invés de por a culpa nas pessoas, que por favor as respeitem e que peça desculpas a essas pessoas por não oferecer a elas o mínimo que um ser humano digno tem direito.
Queria dividir minha tristeza, meus pensamentos, minha revolta, minha angustia, nem que seja com minhas próprias palavras.
Afinal, hoje é um parente de alguém, a casa de alguém, a família de alguém, mas amanhã sei que pode ser a minha.
Precisamos nos ajudar! Isso tem que fazer parte da nossa essência por sermos humanos e termos a capacidade de amar.
Sei que para continuar vivendo eu preciso acreditar na mudança, na idéia de que se cada um fizer um pouquinho aos poucos o mundo caminha para a melhora. Que começando por mim já está bom, mesmo sempre tendo a sensação de querer mais e mais..
Hoje eu to fraca, mas amanha sempre nasce um outro dia, e tomara que ele seja melhor...

“A gente tá vendo tudo, tá vendo a gente
Tá vendo no nosso espelho, na nossa frente
Tá vendo na nossa frente a aberração
Tá vendo, tá sendo visto, querendo ou não
Tá vendo no fim no túnel escuridão
Tá vendo a nossa morte anunciada
Ta vendo a nossa vida valendo nada
(...)
Sou um grão de areia no olho do furacão
Em meio a milhões de grãos cada um na sua busca
Cada bússola num coração
Cada um lê de uma forma o mesmo ponto de interrogação
Nem sempre se pode ter fé
Quando o chão desaparece em baixo do seu pé
Acreditando na chance de ser feliz
Na eterna cicatriz
Eterno aprendiz das escolhas que fiz
Pois sem amor eu nada seria”

Trecho: Palavras repetidas – Gabriel o pensador

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